Sobretudo
sábado, abril 30, 2005
  compensar
lloyd hopkins marcara encontro com o desespero. o tempo passado a dormir não era suficiente para o corpo absorver os edemas. demasiada noite em vigília. "i wont't tell nobody tell nobody". percorria a cidade carregando as pernas inchadas. "one of your soft sweet lagrimas ". sôfrego. "i won't". sentia o coração novo a falhar. "tell nobody". gostaria de parar, encostar-se, repousar. "tell nobody that you've been smoking cigars". compensar. "been smoking cigars". "you've been smoking cigars". odiava as cidades e a toponímia pagã. "sweet lagrimas". rumorejava sozinho contra um corpo que já não lhe servia. "tell nobody". se podesse compensar. "i won't tell nobody that you've been smoking cigars". compensar. "raining hard in this abyss ". cambado, apoiava-se nos taipais; apertava a imagem. "cause it's raining hard ". agarrava-se à imagem. "raining hard". deixou-se escorregar ao longo da madeira para apoiar os joelhos no chão. "won't you give me a kiss". a imagem. "i tossed some roses to perfume his grave". a imagem doía-lhe. "when your baby was slain". a imagem doía-lhe nas mãos.
 
sexta-feira, abril 29, 2005
  impaciente
o sr. dos caminhos precisava de falar com o homem do rio, uma consulta sobre a dama do lago. seguia pelo carreiro da nascente, evitando a sarça e as silvas que se projectam na vereda.

sentia as agulhas verdescuras e as esquírolas secas ferirem as pernas.



sr. dos caminhos: "queria-lhe falar sobre as coisas de hoje e das folhas que caiem..."
homem do rio: "nem todos os que por cá passam querem alguma coisa... as folhas que caiem...sim."
sr. dos caminhos: "sim?"
o homem do rio iniciou o monólogo da condescendência "nem sabem se hão-de rezar para ficar ou para explodir com o céu..." .
o sr. dos caminhos ouvia o longo e repisado discurso sobre as vias da dor (e sua supressão). sentia-se inquieto, ansioso e queria mudar de matéria. de súbito interrompeu "vim falar-lhe de outro assunto".
o homem do rio perscrutou-lhe a decisão impaciente.
sr. dos caminhos: "tenho um plano para o tempo. a dama do lago... conte-me sobre o fluir do rio..."
"...e o que a noite revela no tempo estival" completaram em conjunto.

falaram durante mais algum tempo. no final o homem do rio pediu-lhe que regressasse em breve.
 
quinta-feira, abril 28, 2005
 
não podendo sair do fahrenheit 451, que livro quererias ser?
nem saía do universo ray bradbury. escolheria o "a morte é um acto solitário".

já alguma vez ficaste apanhadinho[a] por um personagem de ficção?
não. ainda consigo distinguir os planos...

qual foi o último livro que compraste?
na feira do livro comprei "a linguagem dos pássaros" de ana teresa pereira, "eleanor rigby" de douglas coupland, "morte no verão" de yukio mishima e 2 livros de iris murdoch

qual o último livro que leste?
"uma casa na escuridão" de josé luís peixoto

que livros estás a ler?
a mesinha de cabeceira anda muito desarrumada. tenho 2 ou 3 policiais que nem sei o nome (hartley howard e dashiell hammett), a biografia da patti smith, "doze nós numa corda" de vários autores e "nenhum olhar" de josé luís peixoto. para além de livros relacionados com o trabalho.

que livros [5] levarias para uma ilha deserta?
-"ulisses" (a edição que tivesse as margens mais largas para anotações). suponho que ficaria entretido para o resto da minha vida
-"o medo" al berto. suponho que ficaria distraído para o resto da minha vida
-"uptight" biografia dos velvet underground. suponho que não podendo ouvir música pelo menos lia
-"os filmes da minha vida/os meus filmes da vida" joão bénard da costa. quando não gosto de um filme que ele fez uma crítica favorável, eu não estou a ver bem a coisa
-um livro policial ao acaso. porque é o que tomo para adormecer

a quem vais passar este testemunho [três pessoas] e porquê?
-Ana (por tudo)
-7iago da womblabel.blogspot.com (porque sempre queria ver que livros é que ele levava)
-Pedro Pinto do aindaoutrodia.blogspot.com (porque o miserável ia atafulhar o barco de livros de xadrez que dão grandes fogueiras)
 
quarta-feira, abril 27, 2005
  leak link

músicas do rock clássico que eu gostava que o pedro pinto "imaginasse uma imagem"


 
terça-feira, abril 26, 2005
 
é a altura de limpar as matas e o sr. dos caminhos é contratado para desbravar a sarça, as latas de sumo natural e os fragmentos descarnados.

as agulhas verdescuras que falharam a ligação à terra e amontoam-se no chão;

tudo o que não deu raízes é arrastado.

as extremas de pedra sucedem-se.

a resina cola-se às botas e transporta as esquírolas secas para outro lugar.



de volta ao lago. descalça-se na orla de terra batida e, sacudindo as botas, livra-se das agulhas; perto do lago há uma poça de água choca, caída nas chuvas, que serve de diluente à resina aderente às solas.

de volta ao lago. sente a vontade de correr em volta do lago.

de volta ao lago. re/de/prime o desejo de entrar nas águas puras. está descalço sobre a terra batida.

inicia uma marcha acelerada sobre a terra batida (por ele: meses de vida em volta do lago). as pedras miudinhas sucedem-se. sente-as quando as arestas aguçadas ferem a planta dos pés.

perde a resistência e inicia a corrida; sabe que não tarda irá parar. vai aumentando o rítmo na medida da falta de fôlego.

pára. sente-se em completa deplecção. arfar, sôfrego, suado, com o peito a arder. talvez se encontre suficientemente perto da exaustão para mergulhar...

há uma força que ainda o impede.
 
domingo, abril 24, 2005
 
smallchange adormecia com a conta de cinco dólares presa na mão. de certa forma, sentia saudades dos velhos tempos e "gostaria de ficar". por muito que lhe custasse, "gostaria de ficar". ai!, e quando era jovem e divertido, fazia promessas com letras que venciam.
 
sexta-feira, abril 22, 2005
  dia para a noite
clay acenava. (nem sabia do que se tratava)

blair queria destinar o jantar, mas o máximo que conseguia era "como quiseres".
absolutamente desorientado com o calor de agosto. ia regressar nesse dia à cidade dos anjos e ouvir discos durante a noite: sempre era preferível que adormecer com lorenins.

sentia a perda do território. afinal, venice beach devia-lhe a vida.
não entendia as ruas cheias de estranhos, instalados nas esplanadas, profanando a selva de concreto.

"e vamos ao concerto?" "pois" "jantamos antes?" "como quiseres"
gostava de concertos. iria ser agradável afastar-se por uns dias da praia de veneza; regressar à cidade dos anjos. à vida que decorria sem ele.

"se todos os anjos fossem terríveis..." "...porque insistes em cumprimentá-los e lhes desejas sempre as boas vindas" completou blair simulando uma expressão enfadada "acabas sempre a dizer as mesmas coisas"
não houve reacção. "sirvo-te mais um copo de vinho?" "pode ser"

apreciava o vinho que tinham escolhido. fez sinal ao empregado para deixar ficar a garrafa.
"esqueci-me de telefonar" "para onde?" "para casa" "para casa?" "sim para casa dos meus pais" "ah, pois, não estava a ver como é que tu ias telefonar sem termos telefone"

"era uma coisa que podíamos fazer - ir à companhia dos telefones?" "pois - mas... se ainda não decidimos nada!" riu-se "pois"

regressaram às life magazines

"estou ansiosa por voltar às festas e às discotecas"
"queria falar com os meus pais" indiferente
"sim! (indignada) isso também - estava a falar por falar. para não estar calada"

"mas vão ser uns meses muito diferentes desta pasmaceira".
"do dia para a noite" pausado

"está bem. vamos embora?"
estavam sentados e aguardavam a conta

o empregado aproximou-se para receber o dinheiro. "pela nova autoestrada chega-se mais rápido à cidade dos anjos?" perguntou blair, protegendo com o braço os olhos do sol.
"do dia para a noite" veemente "não tem mesmo nada haver"
"é como o dia para a noite (confiante) não é? sr...?" um gesto de pergunta "chamo-me farina, ao seu dispôr. é verdade (voltando ao que interessa): daqui a la é um instantinho"
clay ainda insistiu"a nova estrada veio alterar tudo". "como o dia para a noite" reforçou.
 
quinta-feira, abril 21, 2005
 
in my dreams, i'm always strong
 
segunda-feira, abril 18, 2005
  womblabel
a womblabel existe!

e o 7iago postou uma das músicas novas! chama-se alsi. é um sonho ambient em forma de sweeps que nos elevam e uma linha de lead synth escondida, abafada, contida e... perfeita. uma vereda no interior da beira alta que por entre os pinheiros arpegiados chega ao cimo das montanhas que nos rodeiam. pontos singulares e solitários.

as novas músicas do aqob são ilimitadas. eu gosto do ep anterior e sinto-me privilegiado por ter o disco; mas as novas músicas são outra matéria

sobre o hawaiian (overall em vez de 909 para evitar confusões technicas) a cortesia é uma distinção.
 
  new illusion
I've been set free and I've been bound
To the memories of yesterday's
clouds
I've been set free and I've been bound

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

o blog reserva o direito de admissão aqueles que não procurarem todos os dias novas ilusões

o link para a womblabel

 
sábado, abril 16, 2005
 
raymond evitava adormecer: preferia perder a consciência, extinguir-se.
ocupava as últimas horas do dia numa obsessão de trabalho, percorrendo, num esforço violento, o espaço para a exaustão. depois, era a fantasia. o acesso imediato ao sonho.

eu bem que podia ficar por aqui
tornar-me diferente
tornar-me melhor


sentia-se instável sob as luzes; os círios que iluminam as muralhas de noite. a vigília.

ray! és tu?
oye como vas...

evitava por tudo a reconciliação e o balanço da noite. a consciência íngreme, quase a pique.
escapava desmaiando de cansaço

é demasiado viver na cidade afastado do inferno
 
quinta-feira, abril 14, 2005
 

in heaven, everything is fine

 
quarta-feira, abril 13, 2005
 
hearts fail, young hearts fail anytime pressurised, overheat, overtired hearts fail, young hearts fail anytime pressurised, overheat, overtired hearts fail, young hearts fail anytime pressurised, overheat, overtired
 
segunda-feira, abril 11, 2005
  descoberta
os clientes mais "antigos" destas linhas sabem que dantes isto estava cravejado de mp3 originais. o masterplan e única ambição deste blog era conquistar o mundo pelas músicas feitas no espaço de 2 ou 3 quarteirões desta cidade.
falhou. em janeiro retirei todos os mp3 porque projectava uma página mais completa do que seria a overall records e a womb label. até hoje.
portanto, este blog não faz grande sentido. como a música nesta cidade que não faz grande sentido. como a desorganização que não faz mesmo sentido nenhum.

este texto surge por visitar e ouvir o serendipitous cacophonies. era isto que eu tinha pensado para o sobretudo.

e há coisas que não se explicam. como é que, a navegar há anos na blogosfera portuguesa, nunca passei pelo serendipitous cacophonies.
 
 
 
domingo, abril 10, 2005
 
interrompe-se a emissão para anunciar que os new order estão a tocar no entreter!
 
 
mas em pensamentos acabava por perdoar a todos
(sabia que na areia do deserto os seus corações brilhavam mais que o sol)
 
 
hearts fail, young hearts fail
anytime, pressurised
overheat, overtired

raymond sentia o pulso dentro da cabeça
não conseguia decidir a ementa no "the drake"
estava demasiado cansado
a conversa com o investidor bloqueara
e apetecia-lhe fechar os olhos

"o que não vejo não me pode fazer mal"
ah... e a prova dos vinhos
sim sim estou bem disposto obrigado
estava demasiado calor
the turn of the screw the turn of the screw the turn
o suor espalhava-se
e raymond espalhava-se
e apetecia-lhe fechar os olhos
e calar-se

overheat, overtired, pressurized
 
 
in the desert sands our hearts are brighter than the sun
 
sexta-feira, abril 08, 2005
 
 
quinta-feira, abril 07, 2005
  minnesinger
die minnesinger.

raymond acordou incomodado com a imagem.
tinha combinado jantar no "the drake". faltava meia hora.

uma pressurização insuportável: doía-lhe a cabeça e ouvia sibilos de todo o lado. qualquer que fosse a origem do ruído, a mente implodia. as obras da rua, a televisão, a máquina de lavar, as vozes dos vizinhos... tudo convertido em silvos.

e a imaginação era um exutório de materiais estranhos: repetidos, supurados, repetidos.


fechava os olhos enquanto se vestia. a ilusão do gesto que diminuia o volume e frequência dos guinchos que o atordoavam. "o que não vejo não me pode fazer mal".

die minnesinger

aguardava o elevador. sabia bastante de ascensores e elevadores
oh every angel's terrible said freud and rilke all the same rimbaud never paid them no mind but raymond had his elevators his elevators he had his elevator angels
 
terça-feira, abril 05, 2005
  aquecimento
o sr. dos caminhos preferia mudar lentamente. por um longo e reservado sweep.

percorria, resignado, a vereda calcinada pela geada.

a primeira coisa que sentia nos dias da montanha era o mau tempo; o tempo próprio da manhã. mesmo antes de terminar o sonho, uma húmidade fria prendia-lhe as articulações e paralisava-lhe a espinha. acabava por se deixar ficar tolhido na cama. acordado. consciente do movimento que o aquecia.

o sr. dos caminhos preferia mudar lentamente. sempre mais de dez, quinze anos num um movimento longo e reservado.

percorria, inanimado, a vereda carbonizada pelo mau tempo.

bebia o café da manhã forte e azedo, fervendo a água pura que recolhia no lago, na velha chaleira queimada por um tempo demasiado longo e imperfeito. embrulhava-se em mantas com fiapos que entravam dentro dos copos, do lume, da gordura.

o sr. dos caminhos preferia mudar lentamente. gostava de tudo preparado para seguir a frequência grave e subhumana da oscilação.

percorria, consolado, a vereda cauterizada pelo frio.




todas as manhãs definia uma órbita em torno do lago. um limite para a sua caminhada pela vereda, cercando as àguas paradas ,ao largo das ondas de brincar. eram as passadas deliberadas (livres) e indiferentes aos salpicos de lama que as botas levantavam. todas as manhã definia uma curva ao longo do lago. era o movimento que o aquecia.
 
 
o sr. dos caminhos, perdido na mata, erra por entre os pinheiros .

no ponto mais longe da vereda marcada com o caminho para casa.


(a verdade é que não se recorda dos anos vividos no palácio degelo)
 
 
tell nobody tell nobody
i won't tell nobody tell nobody
that you've been smoking cigars
 
domingo, abril 03, 2005
 
give me one of those soft sweet lagrimas
'cause i felt your pain
when your baby was slain
and i tossed some roses to perfume his grave
oh miss madonna won't you let me underneath your
halo
'cause it's raining hard
raining hard in this abyss
 
Run from the fuzz, the cops, the heat Pass me your gloves, there’s crime and it’s never complete Until you snort it up or shoot it down You’re never gonna feel free

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