Sobretudo
os recomeços
matar a imagem.
há dias perguntaram-me qual o título que escolhia para finalizar o blog. entre um estudo sobre
arcas e um poema de
e e cummings, a resposta foi "matar a imagem" (o primeiro livro da atp)
há um lugar perdido na memória de raymond: o subúrbio com casas de 2 andares mais sótão e longos jardins abandonados. arcas enormes, com relevos desenhados e fechaduras de linguetas douradas, que guardam a matriz de decalque.
raymond ouvia
"here began all my dreams"é, na forma mais cru, o lugar que não leva a lado nenhum.
desligou o autorádio e carregou no comando.
drivin' on
9you could be a
shadowbeneath the street
lightbehind my
homewondering what's right
off (lights). the lights are golden.
off.
ohh (life). the lights were golden.
ohh.
whenever i wake up i try and pull the shades up
journey through this whole wide world i made up
flay
a chuva era um rumor que se espalhava pela casa
e a casa de venice beach tinha outro sabor às quartas feiras de manhã. uma câmara ardente de som por onde clay irradiava
one bone and blood mass we fuseAnd I can be a beast for theeentretinha-se com revistas antigas da vida (
"life" magazines) esquecidas e espalhadas pelas divisões
give you muscle, tone and tearsovercome and flay all fearsentre devoções de simpatia e máscaras de sossego, sempre retirava menos do medo e de sentir-se horrivelmente mal
happily a beast for thee
quietly a beast for thee
endlessly a beast for thee
fuga (leaklink)
ir ao
ainda outro dia é uma oportunidade de visitar londres nos finais dos anos 60, ir a concertos dos cream e figurar no zabriskie point.
lloyd hopkins, sozinho num clube que não conhece, aguarda que o saxofone de art pepper levante com o besame mucho
I made a small small song (...) I sang it all night long All through
The wind and rain
Until the morning came
This song is my small song (...) I sang it all night long And when
The morning came
I had to start all over again
My song is so so small (...) I could get down and crawl Searching from Wall to wall
And never see
Anything at all
How could you hate
Such a small song? (...) If I was right I would be wrong Don't be afraid
It's just a small song
smth mst brk
nem se lembrava de ligar a televisão,dias e dias sem jornais, rádios, telefones.e o calor... aparecia de todo o lado.a casa da praia em venice. esperava que o tempo passasse, que acontecesse qualquer coisa.sentia-se realmente sozinho. adormecido.se encontrasse a cassete ainda ouviria o something must break; mais do que isso não
buddy
woo-
ee-
oo i do just like buddy holly
Oh-
oh-
oh, and i'm never tired or bored
33
os estudos concluíram que billy queria aproximar a sua depressão ao sofrimento de Cristo na cruz.
o sacrifício, vontade, ressurreição.
provavelmente, billy chegou a um ponto na sua vida em que sentiu a dor de todos.
33
deep in thought i forgive everyone
inarticulados
small change ouvia passos no andar de cima. em volta sobre o old linoleum floor
e sons agudos, inarticulados
decidiu ligar a jukebox que estava repugnante com restos de frango e cerveja entornada colados ao vidro. pensou que gostaria de ter como laje de túmulo um aparelho daqueles. pelo menos de noite, o néon serveria de repelente a todos os cabrões necrófilos que quisessem mijar-lhe em cima
restavam poucos nighthawks at the diner; destrocou a five-dollar bill amarrotada e escolheu all i have to do is dream dos everly brothers
when i want you in my arms
when i want you and all your charms
whenever i want you, all i have to do is
dreeeeeeeeam
cantarolava enquanto mascava uma pastilha elástica, pensava nos cromos de baseball e no sobretudo que vira na montra dos armazens
only trouble is, gee whiz
I'm dreamin' my life awaymantinham-se os passos sobre o soalho de linóleo; abafados e com uns guinchinhos que interferiam com o sonho; uma frequência que o perturbava
sideways
I'm searching for my mainline
I said I couldn't hit it sideways
escala
veneza, na califórnia, foi, durante imensos anos, o lugar favorito de clay.
as noites chuvosas, dissimuladas entre estações de rádio e filmes antigos, decorriam enquanto sorvia copos licor e encenava um espaço que derivava sem ele. prorrogava as noites resguardado-se das ruínas de los angeles; entregue à irradiação de rock clássico e ao aluvião de imagens na escala de cinzentos.
as resistências eléctricas, com que aquecia a sala, projectavam uma sombra incandescente sobre o estuque branco e o linóleo flutuante; mantinha as luzes desligadas deixando que a ansiedade esboçada da fonte de calor sobreviesse o aluvião de imagens na escala de cinzentos.
segurança, confiança.
"sentado na parte de trás do velho trólei que rangia, lamentoso, entre duas estações vazias, cobertas de confetti. apenas eu, e a grande carruagem de madeira, que gemia. e lá à frente, o condutor, e o bater das alavancas de metal, o chiar dos travões, e o vapor que se escapava de vez em quando"regressava sempre a los angeles, refeito pelo torpor de venice beach, califórnia e saciado das imagens na escala de cinzentos. repleto de um espaço que derivava sem ele.
lloyd cumpria a indicação de afastar-se.
depois do brilho, do palco, da cena
seasons don't fear the reaper,
nor do the wind, the sun or the rain...
ouvia-se da rádio
sentia-se extraordinário com sol da manhã e o movimento;
here but now they're gone
came the last night of sadness
yeah
afastava o pessimismo, a ansiedade e o medo duranta sedição; focava apenas a sua deslocação
the curtains flew then he appearedsaying don't be afraidcome on baby
e o canto com medo tinha desaparecido; e enquanto o sonho se desfazia ele não estava lá
she had become like they areshe had taken his handlallalala
miríade
ainda não conseguira adormecer;
havia uma lâmina escondida dentro da roupa de cama. o pensamento em volta regressava sempre à forma inicial: o corpo esquartejado e os lençóis empastados de sangue. a mentira que, transformada por uma dose generosa de fármaco, correu pelos seus sonhos, atravessou o filtro de névoa carmim e imaterializou o corpo. a sublimação em vapor capaz de passar pelas portas trancadas por dentro.
hostel miríade, montevideu.
um fugitivo a monte há mais de 15 dias. o mapa das estradas no chão de alcatifa, uma muda de roupa espalhada pela cómoda e a chave presa à corrente de prata que usava ao pescoço. tinha de pensar no pequeno-almoço. doíam-lhe os dentes; era uma higiene irregular a que se sujeitava. a mente estava colocada em outubro iluminada pelas fogueiras da praia e transformada pelo ritmo.