miríade
ainda não conseguira adormecer;
havia uma lâmina escondida dentro da roupa de cama. o pensamento em volta regressava sempre à forma inicial: o corpo esquartejado e os lençóis empastados de sangue. a mentira que, transformada por uma dose generosa de fármaco, correu pelos seus sonhos, atravessou o filtro de névoa carmim e imaterializou o corpo. a sublimação em vapor capaz de passar pelas portas trancadas por dentro.
hostel miríade, montevideu.
um fugitivo a monte há mais de 15 dias. o mapa das estradas no chão de alcatifa, uma muda de roupa espalhada pela cómoda e a chave presa à corrente de prata que usava ao pescoço. tinha de pensar no pequeno-almoço. doíam-lhe os dentes; era uma higiene irregular a que se sujeitava. a mente estava colocada em outubro iluminada pelas fogueiras da praia e transformada pelo ritmo.