Sobretudo
terça-feira, maio 24, 2005
 

 
 
à volta da realidade.
como um sentido indirecto. havia um telefone sobre o soalho; as revistas, o cadeirão, os sofás e um fio que atravessava a sala. levara a televisão para o quarto.

escrevia nas páginas preenchidas por fotografias; sobre as imagens. afastava-se dos espaços de texto dos artigos e colunas. evitava a publicidade.
descrevia o que via. como um objectivo. como os livros que lhe davam para colorir.

sobre as imagens das life magazines. ao longe os barcos de flores...
 
segunda-feira, maio 23, 2005
 
entrada do diário de raymond 16/07/1984
i won't return
just for a moment
does it ever dawn upon thee
to do things for me

resvalava; não discernia as estações, trocava os sentidos.
por um momento confiara que tudo se resolveria; que a providência encarregar-se-ia de regenerar os tecidos, cicatrizar as falhas e defeitos que o ocupavam.
não regressaria a um momento perdido, sem valor.

os quartos trancados por dentro. o jogo de sombras.
e sempre a emoção depurada a sobrevir ao desassossego. sempre o mesmo. sempre mais do mesmo.

lembrava-se dos dias passados no verão sobre a areia.
a projecção. a ascensão e queda numa década; as fitas magnéticas negras com vozes azuis.

resvalava; adormecia sempre na mesma posição.
 
sexta-feira, maio 20, 2005
 
i am tired, i am weary
i could sleep for a thousand years
a thousand dreams that would awake me
different colors made of tears



weary será desgastado, saturado;
há uma correspondência entre as noites de sono e o sonho.
 
quinta-feira, maio 19, 2005
 
bem! o reconhecimento da womblabel vem da alemanha! do país do pete namlook. não vou negar uma sensação de vitória e um sorriso late night de satisfação.

de qualquer forma, e porque estamos muito satisfeitos, vamos oferecer edições manufacturadas de um disco com as músicas que estão no: ) SORRISO ( : para quem mandar um mail para a womblabel. mais informações no site.
 
terça-feira, maio 17, 2005
 
o sr. dos caminhos sentia o solo sobre si. o ar , as partículas, a sombra, a floresta comprimiam-no ficando dormente, encaixado...

um corpo imóvel comandado por uma mente imóvel

agarrou uma mão cheia de terra e musgo, livre arbítrio e coragem
 
sábado, maio 14, 2005
 
depois de ouvir o spaceport do aqob (a última release da womblabel) perdi a motivação de continuar a fazer música. no bom sentido; no sentido de que está tudo feito, da obra que chegou ao fim. que está na altura de passar para outro espaço. parabéns.

sinto-me orgulhoso e feliz por, de uma forma muito mínima, logística, contribuir para esta(s) música(s) aparecer(em)
 
 
a piano plays in an empty room

as long as the hand that rocks the cradle is mine
as long as the hand that rocks the cradle is mine


there will blood on your fingers tonight
 
sexta-feira, maio 13, 2005
 
clay lia um artigo da life magazine sobre a vida no deserto. a imagem de uma praia que se extendia em todos sentidos fascinava-o. um sonho prololongado, sem termo, sem finalidade.
-então o que é que achas dos espaços livres de vida?
clay não compreendeu imediatamente a pergunta; estava demasiado concentrado na imagem para estabelecer a relação.
-ah? perguntou
blair riu-se e não repetiu.
-o que é que disseste? insistiu clay
blair não desviou o olhar da revista. o próprio efeito era fingir que não ouvia, que não tinha interesse, que não tinha existido. um sorriso denunciou o jogo.
clay percebeu o sentido.
-eu gosto do deserto, dos espaços livres da vida...
-uh uh. lacónica; acenando com a cabeça sem o confrontar com o olhar. sorriam
um silêncio enquanto liam as life magazines.
de súbito clay lembrou-se:
-é como o céu aberto sobre a cidade dos anjos
 
quarta-feira, maio 11, 2005
 
o sr. dos caminhos movia-se sem fazer nada na orla do lago.

era tudo mais bonito à noite quando não se via o sujo.
queria mudar (gostaria de pelo menos tentar) .
viver uns dias de um ano perdido; passar pelos espaços abandonados.
deixar a casa no meio dos pinheiros com vista para o lago.
mas era tudo mais bonito à noite quando não se via o sujo.
ouvia o rumorejar dos passos. se parasse.
se parasse talvez desaparecessem.
como na igreja quando ouvia o fogo sobre si.
era mesmo tudo mais bonito quando o escuro da noite crescia
e as fogueiras brilhavam nas montanhas.
ia ficando mais culpado... com o tempo, com o torpor e inércia
 
terça-feira, maio 10, 2005
 
Come in Come in For one last dinner That I will make you

Come in Come in It is a small one For I am no cook

You have a long way Where you are going No longer welcome
And I am happy Yes I am happy You will be leaving Things will be changing
For you

You have done much for me But now you're leaving It's back to Egypt
That you are going They are not family They are not friends But a false history
And you aren't sorry

Come in Come in Or am I silly For saying such things Am I implying
That you must come again



estive dois ou três anos sem ouvir o "come in". a primeira ideia que surge quando leio um poema do will oldham é o Velho Testamento. num sentido originário, primordial.
possivelmente esta é uma canção ímpia com a culpa no final (unção) a redimir os defeitos da vida antes de Deus. (por existir uma vida depois).



e há sempre o receio pelos versos que não rimam
 
segunda-feira, maio 09, 2005
 
a narrativa tece-se assim da acumulação da repetição
 
 
 
domingo, maio 08, 2005
  novas edições na womblabel
não fui figurante no zabriskie point, não toquei guitarra rítmo nos velvet underground, não ajudei a construir a golden gate bridge, perdi todas as revoluções. desperdicei muito tempo.

de qualquer forma, desta vez eu estava lá. e concretamente, vi esta música "evolucionar" para uma matéria diferente. sublimar.

da minha série favorita (as músicas de depois do ano novo) a womblabel lança mais uma obra perfeita.


(paralelamente, vai ser colocada uma música minha: "all over the land". as explicações estão algures nos archives do aindaoutrodia)
 
sexta-feira, maio 06, 2005
 
What's on the other side of the big looking hill
Gather your courage gather your free will
I can do without it
I can always shout it
Let me be myself


Your head disappears on over the rise
And then I seize upon the time that it buys
I can do without it
I can always shout it
Know let it be so


Dance all around try to recruit
Exiting finally your bestial gallery
I can live without it
I can always shout it
Let it be
 
quarta-feira, maio 04, 2005
 
let us wallow, let us play, this is our God's day
let us wallow, let us play, this is our God's day
let us wallow, let us play, this is our God's day

"o tempo acaba sempre por passar escurecendo o quarto. desaparece."
sobre um sentido perdido.
raymond percutia a mesa com os dedos.
ansioso enquanto escrevia a entrada do diário
"há um sentido perdido...
vejo as paredes, elevadores, ouço o barulho das pessoas, o ruído das obras; a estação...
sinto-me agoniado, com naúseas, eufórico
apercebo-me das divisões frias, das deslocações de ar...
e das coisas que faltam... e do sentido perdido"
levantou-se para pôr o telefone no descanso e desligar a televisão (standby). jantara muito cedo e apetecia-lhe um copo de leite quente.
"chegar, aceder as coisas que faltam por um sentido perdido. um mundo desconhecido que segue por uma vereda camuflada entre terra, pedras e aldeias."
desligou o microndas, tirou um pão do saco e barrou-o de manteiga com sal. aquecera demasiado o leite (quiemava)
"os planos de Deus são muito friáveis; as nuvens que se sobrepõem, intersectam."
não se conseguia apoiar
 
  saucers
 
terça-feira, maio 03, 2005
 
a womblabel gerou mais uma música para a grande esfera (o mundo).

começo a acreditar que haverá um ponto em que se perde o controlo das explosões que irão suceder-se no céu de forma natural.

as capas dos discos são brilhantes!
 
Run from the fuzz, the cops, the heat Pass me your gloves, there’s crime and it’s never complete Until you snort it up or shoot it down You’re never gonna feel free

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